Ao contrário da crença popular, a maioria das tradições e protocolos que são praticados nas escolas modernas de artes marciais não vêm de tradições de ensinos milenares, mas sim, muitas são inovações modernas, que foram introduzidas no início do Século XX quando a instrução pública, ou seja, o ensino das artes marciais para civis estava começando de fato.
Embora vários indivíduos tenham contribuído para esse desenvolvimento, um dos mais influentes e notáveis foi um instrutor de Okinawa Yabu Kentsu (1866-1937), que serviu na China como oficial do exército japonês e foi aluno de Matsumura Sokon (1809-1901) e Itosu Ankoh.
Yabu Kentsu e seu contemporâneo Hanashiro Chomo (1869-1945) foram instrutores primários de Itosu nas escolas públicas de Okinawa e a partir dele, baseado em suas experiências militares, como oficial do exército, foram introduzidos vários procedimentos para facilitar o ensino público do Karatê nas salas de aula.
Muitas dessas inovações ainda são praticadas em escolas de Karatê em todo o mundo, incluindo também as escolas de artes coreanas como, Taekwondo, Hapkido, etc…
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E os procedimentos introduzidos por ele foram os seguintes:
- Curvar-se ao entrar na sala de treinamento;
- Alinhar os alunos em ordem de classificação;
- Formalidades específicas e sinais de respeito na abertura das aulas;
- Meditação sentado ou ajoelhado “uma prática budista desenvolvida no Japão como resultado da influência da arte do Kendo (“caminho da espada”, coreano: Kumdo)”;
- O treinamento sequenciado, incluindo exercícios de aquecimento, fundamentos, formas e prática de combate;
- Sempre responder ao instrutor com reconhecimento e respeito e;
- Encerramento das aulas com formalidades semelhantes às da abertura.
Muitas dessas práticas já havia sido implementadas no treinamento de Judô e Kendo, e refletiam uma mistura de educação física e militar europeia com o neoconfucionismo japonês e militarismo.
No entanto, esses procedimentos não existiam na China ou no Karatê de Okinawa antes de Yabu; nem fizeram parte da prática do Taekkyeon na Coreia.
Os métodos modernos de Yabu Kentsu foram amplamente adotados por outros instrutores de Okinawa e do Japão, incluindo Mabuni, Funakoshi e Toyama.
Esses procedimentos de treinamento, que não foram encontrados em livros de Karatê e manuais de instrução, tornaram-se padrão para o treinamento coreano de Karatê e posteriormente para o Taekwondo, o que indica claramente uma profunda influência japonesa na modalidade.
Outra inovação moderna é o uso de uniformes de algodão na cor branca nas artes marciais (japonês: dogi; coreano: dobok) e faixas coloridas, cujo o uso foi introduzido no Japão durante o final do Século IX pelo fundador do Judô, Jigoro Kano.
Posteriormente, Funakoshi desenhou seus uniformes do Karatê com base nos uniformes de Jigoro Kano, introduzindo-os em suas aulas por volta de 1924 e antes desses uniformes, os alunos praticavam com roupas folgadas ou, na subtropical Okinawa, com o mínimo de roupa possível.
Os uniformes anteriores aos modelos em gola V que utilizamos atualmente no Taekwondo, que foram introduzidos na década de 1980, são essencialmente idênticos aos usados no Karatê, o que mais ainda, evidencia a influência japonesa na formação do Taekwondo.