Em relação à evolução técnica das competições de Taekwondo com a utilização de protetores corporais (hogu), promovido pela Federação Mundial de Taekwondo (WTF), fundada em 1973, atual WT, a literatura acadêmica em inglês é bastante limitada. Os primeiros livros didáticos da modalidade, que são em sua maioria manuais de instrução, lidavam principalmente, com o chamado “Taekwondo tradicional”, que se concentra em treinamento de formas e autodefesa[1]. Além disso, seus autores frequentemente defendiam apenas combates sem contato[2].
O primeiro livro dedicado exclusivamente ao combate no estilo WT, apareceu em 1980, escrito por Ko Eui Min, que foi treinador da seleção coreana.
Na mesma época, vários estudantes universitários e treinadores coreanos começaram a fazer algumas pesquisas, principalmente para suas teses de mestrado, onde os conteúdos centravam-se, principalmente, em técnicas de chutes para competições e frequência de pontuação[3].
Os trabalhos mais notáveis são de Lee Sung Kook, que foi treinador da seleção coreana em várias ocasiões e posteriormente se tornou o presidente da Korea National Sport University.
Da mesma forma, Kim Se Hyeok [1993], que foi técnico da seleção coreana de maior sucesso, analisou o uso e a frequência das técnicas de chutes, durante o início dos anos 1990, para sua tese de mestrado.
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Posteriormente, Kang Won Sik, que foi Presidente do Kukkiwon, entre os anos de 2010 e 2013, e Lee Kyong Myong, contribuíram para o tópico, listando as mudanças mais importantes nas regras do Taekwondo e também, modificações dos equipamentos do período de 1962 até o final dos anos 90, embora eles, não apresentem análises ou discussões sobre os efeitos dessas modificações nas técnicas e no estilo de combate.
Além deles, vários outros autores lidaram com questões ligadas a competição e/ou desenvolvimento de habilidades técnicas, mas também de forma limitada[4].
Contudo, um estudo de Udo Moenig, de 2011, tentou apresentar uma história evolutiva quanto as técnicas de chutes do Taekwondo esportivo.
O autor argumentou que a evolução das técnicas foi muito acelerada e influenciada pela introdução das competições, bem como, as mudanças nas regras e modificações de equipamentos de proteção.
O artigo descreveu como a força e os golpes poderosos enfatizados nas primeiras competições de Taekwondo foram gradualmente substituídos pela ênfase na velocidade e agilidade tática, incluindo a introdução de uma vasta gama de estepes e posturas de combates não estáticas, ademais, a decisão de atribuir pontos para chutes circulares no tronco, também contribu fortemente para a mudança do foco para a velocidade.
Além disso, o uso crescente do chutes circulares nos combates, aceito pela primeira vez como técnica de pontuação, no final da década de 60, levou ao desenvolvimento de técnicas de chute de contra-ataque direto, que omitiam a fase convencional de bloqueio com defesas, contra-atacando quase que instantaneamente com outra técnica de chute.
Além disso, a velocidade cada vez maior e as novas táticas contribuíram para a introdução de movimentos de “finta” e uma variedade de técnicas de chute diferentes e inovadores ao longo do tempo, como o já citado, chute giratório, chutes rápidos e chutes duplos[5].
Durante a década de 90, as técnicas aplicadas nos combates, consistiam principalmente de chutes circulares em suas diferentes formas, que enfatizavam muito os chutes de contra-ataque, chutes rápidos utilizando a perna que estava posicionada à frente, para o ataque e chutes duplos em sequência[6].
Uma estratégia de combate bastante passiva, muitas vezes com poucas trocas, durante três rounds de três minutos, e com a ação do combate surgindo normalmente ao final do terceiro round, já havia se desenvolvido durante a década de 1980.
No entanto, na década de 1990, essa estratégia contribuiu cada vez mais para a percepção de que os combates de Taekwondo se tornassem extremamente chatos para o público que o assistia, principalmente para quem não era praticante da modalidade.
Além disso, as discussões entre treinadores e atletas de um lado e árbitros laterais do outro, sobre as decisões de pontuação eram grandes.
Inclusive, acusações de manipulação de resultados e favoritismo nas competições se tornaram um grande problema durante os anos 90 e início dos anos 2000; como vimos em um vídeo anterior publicado em meu Canal do Youtube, e também em uma publicação anterior aqui no site.
Todavia, este problema de resultados e favoritismos não aconteciam apenas no Taekwondo. A subjetividade das decisões sobre as atribuições de pontos e as acusações de manipulações, são na verdade, problemas presentes em todos os sistemas esportivos em que são utilizadas pessoas como árbitros.
Como resultado desses problemas, o estabelecimento do Taekwondo optou pela introdução de um protetor corporal eletrônico, também conhecido como Protector and Scoring System (PSS), e por uma revisão completa nas regras de pontuação e competição, entre também, uma variedade de mudanças, entre elas: o tempo de duração do combate e o tamanho da área de competição foram reduzidos e novas regras como: “morte súbita”, tetos de pontos; um número maior de pontos para chutes na cabeça e também, para chutes giratórios foram progressivamente introduzidos.
Ainda, um sistema de revisão de vídeo foi adicionado [vídeo replay]; o processo de qualificação para as Olimpíadas foi reformulado e integrado a um sistema de classificação para atletas e, por último, o equipamento de proteção para a cabeça, ou capacete eletrônico foi pioneiro, além de uma variedade de pequenas alterações nas regras de competição da WT na última década.
No entanto, embora bem-intencionadas, muitas das alterações nas regras de competição e modificações no equipamento de proteção trouxeram uma variedade de resultados imprevistos para os combates do Taekwondo.
Em uma nova série de vídeos que publicarei em breve, no meu Canal do Youtube, será apresentado uma atualização sobre várias questões abordadas em estudos anteriores, uma vez que certas estratégias e tendências “negativas” para as competições do Taekwondo, aceleraram muito nos últimos anos.
É perceptível, que lideranças da WT – Word Taekwondo, parecem ter reconhecido tais problemas e iniciado uma discussão para novas reformas, como aconteceu por exemplo, em um seminário no Taekwondowon, Muju – Coreia do Sul, em outubro de 2016.
O evento forneceu uma plataforma para sugestões e contou com trinta treinadores experientes de todo o mundo, para apresentarem possíveis soluções.
Os problemas centrais identificados pelos participantes deste seminário, foram as deficiências do sistema eletrônico dos protetores de tórax e o “uso excessivo” de técnicas com chutes utilizando a perna posicionada à frente.
A questão do PSS realmente vai para o cerne das reformas do sistema de competição da última década, e a futura direção, bem como, a validade do Taekwondo esportivo, depende de como esta questão será lidada, e também, das reformas a respeito do “daqui em diante”.
Para a série de vídeos citada acima, me basearei em estudos que descrevem e analisam as tendências negativas mais marcantes do atual sistema de competição do Taekwondo, em relação ao uso do PSS.
Em primeiro lugar, a discussão se concentrará no uso excessivo de técnicas de chute com a perna da frente, que mudou totalmente o combate esportivo do Taekwondo, o que para algumas lideranças da modalidade, estas mudanças foram profundamente negativas.
Em seguida, serão apresentadas discussões acerca das características físicas dominantes dos atletas na atualidade, onde é perceptível, que no combate contemporâneo, a característica física mais representativa dos atletas é possuir pernas longas, o que facilita o alcance superior em relação aos demais na divisão de peso, e também, que esta tendência foi acelerada pela introdução do PSS.
Por fim, o estudo afirma que a introdução de novas técnicas não convencionais para pontuação, exerceu um efeito, conforme pesquisas, verdadeiramente negativo, limitando muito a gama de técnicas executadas pelos competidores e, que para muitos, afetou a “qualidade” do Taekwondo.
BIBLIOGRAFIA UTILIZADAS NESTE ARTIGO
[1] – ver, por exemplo, Hwang 1949; 1958 | Choe 1955 | Choi 1959; 1965 | Lee C.U. 1972;
[2] – Choi 1965: 292 | Son, Clark 1968: 268-9;
[3] – Kim H.M. 1977 | Yu 1980 | An 1983;
[4] – Yang 1986 | Kim Y. O. 1990 | Capener 1995 | Sŏ 2007 | Gillis 2008;
[5] – Ko 1980 | Yu 1980 | Lee S. K. 1983; 1984 | Chong et al. 1985 | Yang 1987 | Kang, Lee 1999 | Kim C. M. 2002;
[6] – Kim S.H. 1990.