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SUBAHK: A Narrativa de uma Arte Marcial Coreana “Antiga”

A narrativa histórica popular do Taekwondo, apresenta um excelente exemplo de atitudes nacionalistas na sociedade sul-coreana. Isto se dá, com o intuito de retratar os relatos históricos de forma favorável, independentemente das evidências empíricas.

Após a libertação da Coreia do domínio colonial japonês, a fonte histórica mais antiga e central apresentada para o Taekwondo foi a do “mito Hwarang”, que se espalhou devido à sua promoção pelo governo coreano como um símbolo do poderio militar da Coreia do Sul, tradições marciais e nacionalismo.

Além da famosa história dos “guerreiros” Hwarangs, uma variedade de eventos adicionais resultou em uma narrativa de artes marciais “oficiais” para o Taekwondo e, neste artigo, vamos explorar um destes relatos históricos, descrito inicialmente, por alguns pioneiros que apresentaram o Subahk como uma arte marcial antiga.

SUBAHK: Citado pela primeira vez!

Entre os primeiros autores e, suas publicações sobre as artes marciais coreanas, após a libertação da Coreia, o primeiro artista marcial que possivelmente obteve acesso ao Muye Tobo Tongji (武藝 圖譜 通志) foi Park Chul hee.

Park Chul Hee
Park Chul Hee

Muye Tobo Tongji: (武藝 圖譜 通志) Manual  abrangente e ilustrado de artes marciais.

Muye Tobo Tongji (武藝 圖譜 通志)

Em seu livro de 1958, Park Chul Hee listou 25 das mais de 40 posições de Kwonbop e seus devidos nomes.

Todas estas posturas listadas encontravam-se descritas e ilustradas no Muye Tobo Tongji. Contudo, em sua obra, Park não faz menção ao manual. Park (1958: 16)

Um detalhe interessante é que as posturas apresentadas em seu livro encontravam-se aleatoriamente dispostas, quando comparadas com a disposição exibida no manual original. Além disso, se supormos que ele não tivera acesso ao Muye Tobo Tongji, com relação as nomenclaturas das mesmas, Park poderia ter adquirido os termos de alguns praticantes chineses, já que na Coreia, nesta época, havia uma pequena comunidade chinesa que mantinha laços com Taiwan.

Interessante também, é que neste mesmo livro, Park cita pela primeira vez uma arte marcial chamada Subahk-Hui (수박희). Em suas explicações, ele alega que o Subahk-hui era semelhante ao Kwonbop, no entanto, o mesmo era apresentado com  acompanhamento musical durante a dinastia de Koryeo.

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Essa afirmação de Park provavelmente foi inspirada nas festividades coreanas tradicionais, que normalmente apresentam bandas folclóricas durante todos os tipos de comemorações. Fato que acontece também com as demonstrações modernas de Taekkyeon, em que são frequentemente acompanhadas por músicas de bandas folclóricas.

Uma década depois, em 1968, Lee Seon-geun, ilustrou um dos desenhos da seção Kwonbop do Muye Tobo Tongji em um artigo de jornal sobre Taekwondo; no entanto, ele também não se referiu ao manual original pelo nome.

Por sua vez, ao que parece, Hwang Kee (Moo Duk Kwan) não obtinha conhecimento sobre o Subahk em 1958, uma vez que o termo não foi mencionado em sua publicação do mesmo ano.

Hwang Kee (환기)

Este fato parece contradizer a afirmação de que Hwang havia “descoberto” o Muye Tobo Tongji na Biblioteca da Universidade Nacional de Seul em 1957, e posteriormente a esta “descoberta”, passou a adotar o termo Subahk (Adrogué 2003: 21).

Este fato parece contradizer a afirmação de que Hwang havia “descoberto” o Muye Tobo Tongji na Biblioteca da Universidade Nacional de Seul em 1957, e posteriormente a esta “descoberta”, passou a adotar o termo Subahk (Adrogué 2003: 21).

Além disso, a narrativa de Hwang parece um tanto suspeita, pois o termo Subahk nem sequer foi mencionado no Muye Tobo Tongji; sendo apenas o termo Kwonbop declarado.

Este fato parece contradizer a afirmação de que Hwang havia “descoberto” o Muye Tobo Tongji na Biblioteca da Universidade Nacional de Seul em 1957, e posteriormente a esta “descoberta”, passou a adotar o termo Subahk (Adrogué 2003: 21).

Além disso, a narrativa de Hwang parece um tanto suspeita, pois o termo Subahk nem sequer foi mencionado no Muye Tobo Tongji; sendo apenas o termo Kwonbop declarado.

Já em 1960, no entanto, parece que Hwang já apresentava conhecimento sobre o manual, e estava convencido de que o Subahk representava uma arte marcial coreana genuína e tradicional.

Quando Hwang Kee se separou da primeira Associação de Taekwondo da CoreiaKTA (1959–1961), ele fundou a Associação Coreana Subahk e começou a se referir à sua arte marcial como “Soo Bahk Do” (수박도) (Kang e Yi 1999: 31), e o termo, ao lado de “Tang Soo Do” (당수도), desde então, é usado continuamente pelos seus seguidores até os dias atuais.

Hwang (1970: 78–150) também foi o primeiro a mencionar o Muye Tobo Tongji pelo nome e ilustrou inteiramente a seção Kwonbop em seu volumoso livro: Subahkdo Daegam – Tangsoo.

Subahkdo Daegam - Tangsoo (수박도 대감)
Subahkdo Daegam - Tangsoo (수박도 대감)

Além disso, Hwang se confundiu ou, de fato assumiu sem base bibliográfica, que o Kwonbop e o Subahk eram idênticos, o que acabou se tornando um legado duradouro.

Os termos Subahk e Subahk-hui, na verdade, apareceram primeiramente descrevendo um relato cronológico do início do século XII da dinastia Koryeo (918–1392), no livro Koryeosa (高麗史: História de Koryo), que foi composto durante o reinado do Rei Sejong (1418-1450).

Koryeosa (高麗史/고려사) História de Koryeo.

O termo Subahk, no entanto, foi adotado da terminologia das artes marciais chinesas e representa a transliteração coreana do termo chinês Shoubo (手搏), contudo, o termo já estava em uso durante a Dinastia Han (206 aC-220 aC) [Song 2008: 89], e talvez, sendo usado como um termo genérico para artes marciais chinesas desarmadas, pois na época, a “distinção entre combate e golpes desarmados não era algo muito claro” [Lorge 2012: 46].

A primeira evidência de uma distinção emergente entre os métodos de golpes e combates livres, passou a existir a partir do século VII na China, onde em algumas histórias descrevendo brigas, as habilidades do Boxe foram chamadas de Shoubo. [Lorge 2012: 46–7]

Portanto, em posse destas informações, o Subahk provavelmente foi baseado nos métodos do Boxe Chinês, ou pelo menos influenciado, não representando assim, uma arte marcial coreana antiga.

O sufixo hui/hüi (戲), que foi anexado ao Subahk, significa “jogar“; consequentemente, muitos pesquisadores pensavam no Subahk como uma atividade semelhante a um jogo ou, possivelmente, a um concurso. De fato, jogos de exibição para entretenimento também são mencionados no livro Koryeosa.

Infelizmente, as instruções ou ilustrações do Subahk coreano não sobreviveram, e a arte é conhecida apenas por seu nome. Além disso, não há evidências de como o Subahk pode ter afetado as atividades subsequentes das artes marciais coreanas.

Somente no final da década de 1950, um membro desconhecido da moderna comunidade coreana de artes marciais, se familiarizou com o termo. Consequentemente, o Subahk tem sido associado a todos os tipos de tradições imaginárias de artes marciais coreanas desde então.

O Muye Tobo Tongji, publicado em 1790, foi baseado em duas publicações anteriores, o Muye Chebo (武藝諸譜: Registros ilustrados de artes marciais, 1598), e o Muye Sinbo (武藝新譜: Novos registros de artes marciais, 1759), embora o último, infelizmente tenha se perdido. No entanto, todos esses manuais, foram baseados, principalmente, em um manual militar chinês anterior.

Muye Chebo (武藝諸譜
Muye Chebo (武藝諸譜)

Considerando que o Muye Chebo é uma reprodução manuscrita coreana do texto em chinês Jixiao Xinshu (紀效新書: Livro chinês de técnicas eficases), o Muye Tobo Tongji foi significativamente modificado em várias seções e, entre estas modificações, está a adição dos métodos de espadas japonesas, com técnicas de antecipação a ataques [Kim Sang H. 2000: 12].

Além disso, o combate japonês com espadas, era altamente considerado por causa de sua sofisticação. No entanto, o livro ainda se assemelha, em muitas partes, ao trabalho chinês e, desta forma, não pode ser considerado uma composição coreana independente [Pratt 2000].

O Muye Tobo Tongji também ilustra e explica o uso de uma variedade de armas, mas uma pequena seção, intitulada “Kwonbop-bu” (拳法譜, Documentação do método do punho), é dedicada a um estilo de combate desarmado (Chinês: Quanfa).

As ilustrações do “Kwonbop-burefletem, inconfundivelmente, ao Boxe Chinês, e as ilustrações, incluindo os textos descritivos, não foram consideravelmente modificadas a partir do protótipo chinês, e algumas partes são totalmente idênticas nas ilustrações e no conteúdo descritivo.

No entanto, o autor do Muye Tobo Tongji acrescentou mais posições de luta, e também, uma pequena seção descrevendo exercícios físicos. O trabalho exibe “mais de 40 posições” em comparação com o trabalho original chinês, com apenas 24, desta forma, o número exato de posições descritas no manual não é muito preciso, pois algumas das posições são descritas com um parceiro (dois lutadores).

No entanto, o autor do Muye Tobo Tongji acrescentou mais posições de luta, e também, uma pequena seção descrevendo exercícios físicos. O trabalho exibe “mais de 40 posições” em comparação com o trabalho original chinês, com apenas 24, desta forma, o número exato de posições descritas no manual não é muito preciso, pois algumas das posições são descritas com um parceiro (dois lutadores).

A maioria dos pesquisadores assume que existem 42 posições descritas, mas como comentado acima, o número pode ser maior. Além disso, os textos instrutivos são geralmente mais curtos, o que os torna muito vagos, carecendo assim, de mais detalhes descritivos.

Mais intrigante ainda, é com relação a introdução, que consiste em uma grande variedade de fragmentos de frases de sabedoria das artes marciais de várias fontes chinesas, que acabam não fazendo sentido algum.

Por outro lado, o autor manteve o traje e a aparência dos lutadores com o peito nu, como descrito no manual original.

Muye Chebo Ponyok Sokchip, instruções kwonbop ► Folha de rosto e página três (escritas da direita para a esquerda). O Muye Chebo Ponyok Sokchip de aproximadamente 1610 é uma reprodução do Muye chebo. Fonte: Cortesia da Biblioteca Dongsan da Universidade Keimyung.
Muye Chebo Ponyok Sokchip, instruções kwonbop ► Folha de rosto e página três (escritas da direita para a esquerda). O Muye Chebo Ponyok Sokchip de aproximadamente 1610 é uma reprodução do Muye chebo. Fonte: Cortesia da Biblioteca Dongsan da Universidade Keimyung.

“Parece não haver conexão aparente entre o Kwonbop e qualquer outra arte marcial coreana antiga.”

O fato de o Kwonbop, que também não foi muito modificado desde a publicação do Muye Chebo ao Muye Tobo Tongji [um período de quase 200 anos], ocupar apenas uma pequena seção em todos os livros, confirma a ideia de que desarmado o combate não teve um grande papel nas forças armadas de Joseon.

Isso parece óbvio, uma vez que métodos de combate desarmados nunca tiveram nenhuma função real em batalhas nos exércitos anteriores, que naturalmente, os combatentes lutavam com arcos e flechas, espadas, lanças, bastões ou quaisquer outros instrumentos ou armas disponíveis [Lorge 2012: 5; 45].

“Além é claro, que durante o período da publicação do Muye Tobo Tongji, a maioria das artes marciais tradicionais já era obsoleta, devido à introdução de armas de fogo pelos chineses e japoneses.”

Nos tempos modernos, a primeira evidência de que os coreanos tiveram contato com Kwonbop novamente, foi registrada em conexão com dois dos fundadores das primeiras cinco Kwans ou escolas.

Por exemplo: Yun Byong In, fundador da YMCA Kwonbop-pu (atual: Chang Moo Kwan), teria aprendido Kwonbop com um instrutor chinês enquanto crescia na Manchúria [Kang e Yi 1999: 9]

Hwang Kee declarou (Hwang, 1995: 12) que havia adquirido algum conhecimento rudimentar de Kwonbop, possivelmente enquanto trabalhava na Manchúria entre 1935 e 1937, porém, esta afirmação não possui verificação ou comprovação.

Embora a influência geral do Kwonbop na atividade do Taekwondo permanecesse insignificante, o nome Kwonbop, como um termo alternativo ao Tangsoodo e ao Kongsoodo (ou seja, Karatê-do), era popular entre várias das primeiras Kwans quando se referiam as suas artes marciais.

Estes nomes foram utilizados, principalmente por razões nacionalistas, com o intuito de obscurecer a tradição japonesa do Karatê na Coreia [Moenig 2015: 44–5].

Já em relação ao Subahk, ele possivelmente não existia no período da introdução do Muye Chebo, pois o mesmo, continha apenas instruções de Kwonbop.

Portanto, afirmar que o Subahk era o mesmo que o então recém-transferido Kwonbop da China, representa um grande salto de fé. Além disso, nem as instruções Shoubo (Subahk) chinesas foram transmitidas, nem a conexão do Shoubo com o Quanfa, posterior Kwonbop foi registrada ou explicada.

Contudo, sem dúvida, as ilustrações do Kwonbop no Muye Tobo Tongji, forneceram inconscientemente ou manipulativamente, a imagem visual atraente, derivada e imaginária para as artes marciais coreanas “antigas” nos tempos atuais.

QUANTO A FORMAÇÃO DA COMISSÃO ELEITORAL

BIBLIOGRAFIA UTILIZADAS NESTE ARTIGO

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[27] – Kang e Lee, 1999: Capítulo 1, Seção 1-1;

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[29] – Cook, 2001: 76-96); Lee, 1997; Massar & St. Cyrien, 1999.

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Mestre Coelho

Alexandre Coelho dos Santos

  • Administrador de Empresas;
  • Taekwondo Chang Moo Kwan – 8° Dan;
  • Taekwondo Kukkiwon – 7° Dan;
  • Haedong Kumdo 지영쌍검류 – 4° Dan;
  • Representante para o Brasil da United World Haedong Kumdo Federation;
  • Instrutor Internacional do Kukkiwon – 3ª Classe;
  • Examinador Internacional do Kukkiwon – 3ª Classe;
  • Professor do Curso de Pós-Graduação em Taekwondo pela Faculdade CESUFI.

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